segunda-feira, 28 de março de 2016

Se fosse Presidente da Republica....


Daviz Simango

Perguntamos ao Presidente do Movimento Democrático de Moçambique, Daviz Simango, o que poderia fazer para evitar que o país não volte a mergulhar em guerra, pois, é uma pergunta pertinente . Todo o povo quer paz e tranquilidade para que a economia possa se desenvolver e as crianças voltem a sorrir. A Guerra em que estamos, de novo, metidos é uma máquina de fazer dinheiro para uma certa elite política que encontram na Guerra uma forma de fazer dinheiro.
 P – Se o senhor fosse presidente da República, o que faria para o país não voltar a mergulhar em guerra?
Daviz Simango :  Uma das coisas mais simples neste processo seria garantir que todos os actores moçambicanos tenham as mesmas oportunidades. Essas oportunidades criam-se através de uma revisão constitucional que deve passar por garantir uma descentralização efectiva, em todo o território nacional, garantir que os governadores provinciais sejam eleitos.
Moçambique já tem uma boa experiência neste projecto. Existem autarquias onde vários cidadãos estão a exercer os mandatos outorgados pelos munícipes e nelas estão cidadãos de diferentes políticas e ao fim do dia  todos tentam fazer o melhor de si para que o país continue unido.
Temos a experiência em que o Presidente da República é eleito e a Assembleia da República também é eleita. Temos uma experiência incompleto em que temos as assembleias provinciais são eleitas, porem, o governador não é eleito. É complementar essa lacuna, formulando que o governador deve ser eleito. Isso permitiria que, no país, tivesse uma Assembleia municipal eleita e um presidente municipal eleito, uma Assembleia provincial eleita e um governador eleito; uma Assembleia da República eleita e um chefe de Estão também eleito.
Uma outra que é importante neste processo é que haja distanciamento entre os poderes de estado. A Justiça não deve depender do poder político como, alias, acontece hoje no nosso país. Uma justice independente é um factor muito importante quer para o desenvolvimento socioeconômico quer para a chefia de um Estado de Direito Democrático. Portanto, é preciso libertar a Justiça para que possa ajudar a implanter um Estado de Direito e assim reduzir os indices da corrupção e, como sabemos, a corrupção inibe o desenvolvimento de qualquer pais.  A Polícia de Investigação Criminal tem que passar sob a alçada da Procuradoria e não continuar a depender dos comandantes da polícia porque isso concorre para vários crimes que ocorrem não sejam esclarecidos.
Com a Justiça funcional e a descentralização e separação dos poderes podemos ter uma paz efectiva no país. Enquanto isso não acontecer, continuaremos uma paz temporária, sazonal e barulhenta. Enquanto a Justiça não conseguir resolver os diferendos existentes entre os cidadãos com o Estado, continuaremos a nos bate runs aos outros porque o árbitro depende de um dos contendores.
A redução dos poderes do chefe de Estado é fundamental para a estabilidade do país. O chefe de Estado não pode continuar a indicar o juíz-presidente dos tribunais Supremo, Administrativo e do Conselho Constitucional. Nem deve indicar os reitores das universidades e institutos públicos de ensino superior. 
Actualmente o chefe de Estado é um poço de poderes e isso não é bom para um país que se pretende democrático. As universidades e institutos superiores de ensino não devem depender do poder politico. Devem ser independentes para que possam investigar e ensinar com qualidade, disse Simango.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Amurane diz que demolições de construções ilegais vão continuar



Mahamudo Amurane, Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, avisa, em entrevista que nos concedeu, que quem construir à margem da lei, vamos demolir.
Mahamudo Amurane
As demolições têm a ver com infraestruturas que foram erguidas em locais inadequados e sem autorização do município, que não passaram pelo processo de legalização nem pelo plano de pormenores. As nossas cidades, nos últimos 20-30 anos, cresceram de forma desordenada. Hoje  temos bairros extensos e populosos mas sem qualquer via de acesso, e isso é inaceitável. Em caso de necessidade, não podem chegar lá ambulância nem carro de bombeiros. 
Na nossa cidade, em Maputo também eu vi, uma pessoa para passar de um quintal para outro, tem que inclinar a cabeça. Isso demonstra uma desgovernação. O que encontramos é lamentável, por isso, temos vindo a sensibilizar as pessoas que temos a dignidade e a cidade de Nampula não a Ilha de Moçambique em que a gente está confinada e não tem a possibilidade de expansão. A cidade de Nampula tem extensas áreas e não se justifica a actual situação de aglomeração que nos é imposta hoje.
Nampula poderia crescer de forma organizada e estruturada. Aconteceu assim porque as autoridades competentes nunca se deram ao tempo de planificar o ordenamento territorial e está  a custar, neste momento, nas mentes das comunidades quando avançamos com projectos estruturados, sensibilizando que precisamos de parcelar os espaços, abrir as vias de acesso e essas vias não podem ser ocupadas por construções de casas, por muito que não sejam pavimentadas.
Temos vindo a lidar com esta questão e para nós é um grande desafio que temos pela frente em termos de consciencialização das populações porque tinham sido habituadas a viver naquelas condições. Dizemos às  pessoas que são dignas de viver de forma estruturada e organizada, com ruas, mercados e centros de saúde nos bairros.
O Conselho Municipal tem a responsabilidade de desenhar os planos de estrutura e de pormenores. Já avançamos e vamos apresentar à Assembleia Municipal o Plano de Pormenores e esperamos avançar com a sua implementação logo que for aprovado e vamos convidar as comunidades para ocuparem os espaços já estruturados. Isso vai nos possibilitar que tenhamos uma cidade estruturada, disse Amurane.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Mia Couto é demasiado parcial





O escritor moçambicano Mia Couto deveria evitar fazer considerações políticas , para que possa continuar a merecer a consideração e respeito de todo o publico nacional, para que seja uma figura consensual, aceite por todos por não se deixar confundir com nenhuma das partes em disputa política. Porém, tem sido recorrente Mia Couto posicionar-se do lado do partido Frelimo e do seu governo. Nos seus pronunciamentos públicos, Mia Couto não consegue manter-se neutro, sempre procura colocar-se do lado do Frelimo e isso não faz bem para uma figura do tamanho dele que construiu a sua fama com esforço e sabedoria próprios.
Numa agressão externa, seria uma obrigação moral de todos se colocarem do lado do governo para defendermos a pátria ameaçada e quem assim não o fizer, pode correr o risco de ser rotulado de traidor, mas te não é o caso em apreço. Trata-se de uma luta entre irmãos desavindos por razões sobejamente conhecidas – a exclusão de uns pelos outros, da discriminação, em todos os sentidos, quer político, econômico e social, de um grupo pelos outros, e da ganância pelo poder absoluto, não se importando como chegar a ele.
O grupo a que Mia Couto sai em defesa instrumentaliza as instituições públicas, a polícia e o sistema judicial para garantir a manutenção e reprodução do poder. Os órgãos eleitorais, desde o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, Comissão Nacional de Eleiões passando perlo Conselho Constitucional – estão, escrupulosamente, desenhados para garantir a vitória de uns e a derrota, inevitavelmente, de outros, independentemente do sentido da votação. Esta é a razão fundamental do conflito tanto ontem quanto hoje. Outra análise é de muito sérias dúvidas.
Assim, as eleições servem apenas para impressionar ao mundo ocidental que “nós também brincamos às eleições” para o país continuar a receber apoios económico-financeiros e fazer prosperar uma classe empresarial ou, supostamente, empresarial à custa de roubo e gatunagem, depois de um piscar de olho das organizações internacionais como a União Europeia que, de forma reiterada, abençoam a burla eleitoral, transmitindo a mensagem de que há uma democracia para o mundo civilizado e outra para os indígenas africanos. O que eles abençoam como bom para nós, na terra deles nem para a latrina vai porque os seus povos abominam roubos.
Desta vez, Mia Couto diz que a Renamo e Afonso Dhlakama ao colocarem pré-condições para se iniciar o diálogo com o governo e Presidente da República demonstra que não deseja conversar. Pensar de tal modo é uma grande falácia quem ainda se lembra de como o governo quebrou a pouca confiança com a Renamo que ainda prevalecia. Depois de mais de uma centenas de rondas infrutíferas entre as delegações do governo e da Renamo, de duas emboscadas e um cerco à casa do líder da Renamo, numa tentativa de o eliminar, fisicamente, à maneira angolana, seria ingénuo demais que a Renamo aceitasse tudo sem a presence de uma mediação comprovadamente séria e comprometida. 
O que mudou de substancial do lado do governo capaz de alterar a opinião da Renamo e do publico em geral? Eu, pessoalmente,”desconsigo” vislumbrar. Vejo o mesmo governo agindo atrás das mesmas intenções – excluir o diferente. A recente revelação da existência de esquadrões de morte para matar os adversários da Frelimo só pode ser concebido por gente horrível e sem moral. Nem mesmo o sistema colonial havia instituído, em Moçambique, grupos armados para eliminar, pelas cidades, povoados e aldeias, os potenciais adversários do regime como acontece nos nossos tempos de hoje. O colono era mau, na verdade, mas, esses são piores, de facto.
Depois duas emboscadas das forças governamentais, é exigir demais que Dhlakama vá ao encontro dos seus carrascos como se fosse à praia ou a uma barraca tomar uma cerveja gelada e saboreando tremoços. É um exagero intragável. Mia Couto deveria ser mais equilibrado, equidistante das disputas políticas para continuar a ser o patrimônio de todos os moçambicanos, pois, ele é uma referência obrigatória da literatura moçambicana moderna e eu costume ler os livros de Mia Couto com muito prazer. Se continuar a acenar a partir da janela da Frelimo, poderá ser detestado por muitos dos seus leitores de hoje.
O tamanho que Mia Couto ostenta hoje custou muito sacrifício a construí-lo e não deve dar ao luxo de derrubar este edifício cultural de maneira leviana para agradar a um grupo de pessoas que se mantém no poder através de truques e malabarismos. Mia Couto é um grande escritor que extravasa as fronteiras nacionais, por isso, deveria ser mais cauteloso para se deixar enlamar de qualquer maneira em questões políticas polêmicas, a menos que tire algum proveito disso.
Politicamente, pouco se poderia esperar do posicionamento de Mia Couto porque, em 1974 e nos anos subsequentes à Independência Nacional, ele fez parte do grupo que combatia o multipartidarismo, por emoção do momento ou convicção própria. Muitos que assim procederam, com o tempo foram mudando e, hoje, tomam outros posicionamentos públicos. Mudar porque as circunstâncias mudaram, é sempre bom e uma atitude de louvar. Até Judas Iscariotes mudou de opinião, por isso, se foi enforcar quando, pouco depois, se apercebeu o sua atitude de se deixar vender por 30 moedas levaria Jesus Cristo, o seu Mestre, à morte certa.
Mia Couto, que hoje recrimina Dhlakama, não condenou através da sua voz nem através da sua principal arma – a pena – as emboscadas que as forças governamentais o submeteram. O perigo cerco à sua residência, na Beira, não mereceu uma palavra de repreensão ao partido Frelimo e ao seu governo, mas, não hesitou em dizer que a Renamo e Dhlakama não querem paz. Mia Couto não viu nenhuma gravidade nas atrocidades a que as populações de Moatize e Tsangano estão sujeitas pelas forças governamentais que as obrigam a procurar refúgio e sossego no Malawi.     
De forma nenhuma eu pretendo cercear a liberdade de opinião de Mia Couto, como alguém pode pensar, mas entendo que a opinião emitida por Mia Couto já foi formulada por muitos outros mas nunca teve o impacto como foi da vez do nosso escritor. Os demais podem repetir isso mil vezes ao dia e ninguém ouvir nada porque a voz deles não chega aos céus. A diferença reside, exactamente, aí: Mia Couto é uma grande figura social, não deve participar da divisão do povo. Mia Couto não é uma figura qualquer. Basta uma palavra sua para inundar o mundo, por isso, livrar-se de gente procurada pelo Tribunal Penal Internacional, acusada de violação dos direitos humanos seria um passo importante passo.                    

quarta-feira, 16 de março de 2016

Milhares de moçambicanos procuram abrigo no Malawi


-  Até 29 de Janeiro, o campo de Kapise tinha 3.642 refugiados
- Agora (16.03.2016) o número de refugiados subiu para 11.500 refugiados e o governo malawiano desenha abrir um outro campo.  
Refugiados em Kapise-Malawi
O campo de Kapise localiza-se a Noroeste do distrito malawiano de Mwanza, no distrito de Tsangano na província moçambicana de Tete. Kapise, pela estrada, contando a partir do Zóbuè, dista cerca de 35 quilómetros. É um campo aberto localizado num planalto cortando o horizonte, de montanhas cobertas de nuvens carregadas. Terra preta e fértil, bastante produtiva. Lá encontramos milhares de moçambicanos fugidos da guerra que ocorre no seu país, entre as forças do governo e da guerrilha da Renamo. A existência de milhares de moçambicanos, no Malawi, que fogem da guerra, é um facto irrefutável, por mais que as autoridades moçambicanas tentem negar, a pés juntos, este facto, como forma de mostrar ao mundo que tudo está está bem entre nós, que há refugiados fugindo dos confrontos militares entre as forças governamentais e homens armados da Renamo. Os confrontos resultam da tentativa do governo de desarmar compulsivamente os homens armados da Renamo. 
Deixamos o pouco que tínhamos  Em assembleia convocada para nos dizerem o que mais lhes dói, os refugiados, sem rodeios, falaram que fugiram de Moçambique para Malawi por temerem ser mortos porque as Forças de Defesa e Segurança, FDS, queimam as nossas casas, alegando que nós damos apoio à Renamo.” Continuando, disseram que as FDS saqueiam os nossos celeiros, roubam o nosso gado e põem em alvoroço as nossas aldeias. As nossas crianças já não podem ir à escola porque nós fugimos para as matas. As escolas estão lá mas vazias. Todos fugiram, professores incluídos. As escolas dos nossos filhos estão fechadas, relataram.

Os nossos bois, cabritos e ovelhas foram roubados pelas forças do governo (que eles chamam de forças da Frelimo porque cumprem ordens do partido Frelimo). Nem as nossas galinhas escaparam, apanharam-nas uma a uma e levaram-nas para os seus blindados, denunciaram os refugiados. Fazem isso alegando que a Renamo vai ficar sem comida, vai ter que passar fome. Acontece, porém, que quem está a passar fome agora é a população, somos nós que fugimos das nossas terras, disse um refugiado.
Esquecem-se as forças da Frelimo de que aquilo que levam nos pertence a nós, e não à Renamo como julgam, prosseguiram. Quem faz machambas para produzir e quem cria animais que levam, somos nós que ficamos desgraçados e empobrecidos. Agora já não temos nada para dar aos nossos filhos porque nos tiraram tudo. Aqui no campo, não há comida suficiente para todos e o governo de Moçambique não nos dá nada nem nos reconhece, denunciaram. 
Refugiados Kapes-Malawi
Não somos preguiçosos
Os refugiados disseram ainda que o Alto Comissário de Moçambique no Malawi foi, em Dezembro passado, ao campo de Kapise e convidou-os a regressarem para o país porque, em Moçambique, não há guerra e a vida está a correr com normalidade. Em resposta, os refugiados disseram ao Alto Comissário que perderam tudo devido à guerra e aquele discurso do representante de Moçambique era falso porque os soldados do governo batem nas populações,la e roubam tudo. Perante a insistência do Alto Comissário, os refugiados convidaram-no a abandonar o campo e se não o fizesse voluntariamente seria obrigado a faze-lo, mas desta vez, de maneira forçada. Assim, foi abortada a tentativa de convencer os refugiados a regressarem à fornalha de onde se haviam escapado.
Contrariado, o Alto Comissário disse que aqueles não são refugiados, mas sim, um grupo de preguiçosos que fogem das machambas para viverem de esmola internacional. Um dos refugiados, falando em nome dos restantes, perguntou como seria possível um representante de um estado responsável proferir tais ofensas? Prosseguindo, disse que “somos preguiçosos que deixamos machambas com milho, mapira e batata. Temos bananeiras, mangueiras, laranjeiras e tangerineiras a florirem. A batata das nossas machambas estão a alimentar os soldados dos que nos chamam de preguiçosos. As nossas galinhas e cabritos alimentam aos nossos agressores. Fugimos e eles ficaram a desfrutar do nosso trabalho.
“Diz o governo que somos preguiçosos, mas, os seus soldados vêm roubar os nossos cabritos, ovelhas, bois e galinhas. Queimaram as nossas casas e destruíram as nossas bicicletas e motorizadas. Não somos preguiçosos. Estamos a fugir da guerra entre a Frelimo e a Renamo. Estamos a fugir das torturas e de outras atrocidades que as forças governamentais fazem contra nós.” Afinal, a teoria de “preguiçosos” não é apenas uma invenção do Alto Comissário de Moçambique no Malawi, mas um pensamento dominante nas hostes governamentais para tentar camuflar um problema real que afecta a milhares de moçambicanos.
Nem mesmo o Presidente da República…
Falando a partir de Adis-Abeba, na Etiópia, onde decorreu, semana passada, a cimeira da União Africana, o Presidente Filipe Nyusi disse que os moçambicanos aglomerados no Malawi não são refugiados mas se trata apenas de um movimento migratório das populações à procura de terras férteis, fertilizantes, etc. 
Porquê o governo não os assume refugiados?
Segundo as Nações Unidas, refugiado é aquele que anbandonou o seu território e demanda outro território devido à insegurança militar. Sai do seu país porque o estado não lhe oferece segurança para viver e trabalhar e no território de acolhimento é assitido por organizações das Nações Unidas, como ACNUR, PNUD, UNICEF e outras. Admitindo isso, o governo de Moçambique poderá ser desqualificado por ser incapaz de garantir segurança aos seus cidadãos, descendo alguns degraus no ranking internacional, por isso evita aceitar que há refugiados fugindo da guerra.
Esta é a razão fundamental do estranho esforço do governo de Filipe Nyusi em não quer admitir os moçambicanos que fogem do país por causa da guerra. Assim, assitimos uma música mais ou menos bem ensaiada, de cima abaixo, negando a existência de refugiados porque isso fica que 40 anos depois da Independência o governo ainda não tenha conseguido garantir a estabilidade do país. 
Vimos refugiados e não movimento migratório
Refugfiados Kapise - Malawi
O que nós vimos, no terreno, não tem a ver com a imaginação do governo moçambicano, pois, trata-se de uma outra realidade bem contrária o que president chama, ironicamente, de “movimento migratório” . Um movimento migratório, que nunca incluí o abandono de celeiros recheados de produtos, animais de grande e pequeno porte e incêndios de casas, só pode ser uma loucura colectiva. Só pode ser movimento migratório provocado pela guerra, que parece ser o presente caso, se assim for, então estamos em guerra e aqueles são, como consequência, refugiados de guerra, que o governo de Filipe Nyusi tanto evita reconhecer e inventa palavras, encomenda entrevistas fantasmas.  
Fomos ao campo de Kapise e vimos milhares de moçambicanos fugindo das atrocidades inflingidas pelas FDS para desencorajar as populações de se simpatizarem com a Renamo. Aqui está um problema grave. Não é tarefa das FDS desencoranjarou ou encorajar alguém a simpatizar-se ou deixar de se simpatizar com um determinado partido.
A situação poderá ser dramática, alerta administrador de Mwanza
O administrador malawiano do distrito de Mwanza, Gift Rapozo, que teve a cortesia de nos receber na sua residência, chamou a atenção para as autoridades moçambicanas chegarem a um entendimento com a Renamo porque, a continuar nos actuais ritmos, a situação poderá evoluir para o pior. Pensávamos que fosse uma situação passageira, mas agora temos no campo de Kapise 3.642 refugiados, disse.
O número de moçambicanos que chegam fugindo do conflito armado entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo está a tomar outras proporções. A assistência disponibilizada pelos Médicos Sem Fronteiras mostrou-se insuficiente e agora entraram em acção a UNICEF, PNUD e o ACNUR. Podemos dizer que algo está de errado nestes  acontecimentos. Temos visões e dfinições diferentes. Estamos a falar de coisas diferentes porque os moçambicanos que estão em Kapisse são refugiados que procuram abrigo devido a confrontações militares entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo, frisou Gift Rapozo.    
A comida é insuficiente  
Os refugiados disseram que estão a passar fome, a comida que chega ao campo é insuficiente. “Desde que chegámos ao Malawi, o nosso governo nunca nos apoiou”, disseram. “Nunca chegou de Moçambique um grão de milho ou um saco de feijão. Nem um quilo de sal nem um bocado de açucar. Comemos graças à benevolência do governo de Malawi que não tem tido mãos a medir e da ACNUR que nos envia comida e outros serviços básicos de saúde. A ACNUR fornece tendas para abrigar os refugiados. Com os pronunciamentos do governo de Moçambique de que não há guerra e nós somos uns preguiçosos têm servido bloqueio aos apoios internacionais. Isso tem contribuído para a degração das nossas condições de vida, neste campo, porque o governo não assume que estamos a fugir de guerra, ora em curso no país.”
Os ajudantes da mentira
Refugiados Kapise - Malawi
Indivíduos ligados ao regime da Frelimo andam a desinformar que os refugiados não são refugiados mas uns oportunistas que procuram comer deitados, ou ainda, são moçambicanos que se deslocam a Malawi no âmbito das relações familiars porque, segundo eles, há moçambicanos que casaram do outro lado e há malawianos que constituiram familias cá, portanto, esse movimento está incluído em visitas familiares. Na arte de bem desinformar, o governo conta com o seu “precioso” G40 (grupo de moçambicanos que espalham mentiras para favorecer o partido Frelimo e o seu governo, usando os meios públicos de comunicção social) para espalhar a mentira e isolar nossos compatriotas que demandam segurança e protecção além-fronteiras.
Outros ainda, bem instalados nas suas poltronas em Maputo, telefonam para algum secretário permanente que esperava que os refugiados fossem se despedir dele e lhes uma guia de marcha para se refugiarem no Malawi. Isso de dizer que o grupo se pretende fazer passar por refugiados é constituídos de mulheres e crianças, é uma mentira que faz bradar aos céus. No campo, e é o único existente, vimos homens, mulheres, jovens e crianças.
Outro grupo de mentirosos diz que as mulheres q            ue se encontram no Malawi são esposas dos guerrilheiros da Renamo, tendo-as passado para o outro lado para livrá-las de de eventuais problemas resultantes das confrontações. Que grande mentira! E os velhos são pais dos guerrilheiros da Renamo? As senhoras já de avançada idade que vimos são avós dos homens armados da Renamo? Como se diz na gíria popular : Brincadeira tem hora. Não pode brincar com as pessoas a toda hora.
Os verdadeiros oportunistas são aqueles que procuram tapar o sol com a paneira. Ninguém fugiu da fome, até porque deixamos os nossos celeiros cheios e as machambas lavradas. Fugimos da guerra entre as forças da Frelimo e os homens armados da Renamo, frisou um dos refugiados.        
 
Condições degradantes
Visitamos o campo de Picasse, que alberga os 3.642 refugiados moçambicanos, sempre acompanhados pelo líder do local onde estão os mocambicanos. Vimos que os nossos compatriotas estão a viver em palhotas improvisadas, por vezes, cobertas de capim. Outros, considerados bem-aventurados, conseguiram receber umas pequenas tendas de lona. Não têm água potável e as crianças brincam indiferentes.
As doenças diarréicas são frequentes por deficiente saneamento do meio. Os desmaios não dao tréguas, por insuficiência alimentar. Há desmaios todos os dias. Cada um fica atento para socorrer o vizinho quando chegar a sua vez de desmaiar. Os assistentes sanitários do campo dizem não haver nenhum segredo nisso e se deve unicamente à falta de comida.
Os mais velhos pensam o que vai ser o dia de amanhã. As mulheres dizem que nas suas terras está chover e seria oportuno lançar a segunda campanha de sementeira, mas entregam tudo a Deus porque só a Ele pretence o future. Dizem que quando regressarem serão obrigados a começar tudo do zero porque o que deixaram foi destruído e saqueiado.
Refugiados Kapise - Malawi
As crianças estudam, com o apoio do ACNUR, em  escolas do nível primário improvisdas pelas Nações Unidas para que os meninos não percam o ano lectivo. Dizem as crianças que estão satisfeitas mas estariam melhor nas nas suas escolas que deixaram no distrito de Tsangano. “Queremos voltar, mas, antes de tudo, parem com a guerra”, foi o que nos disseram.  
As autoridades malawianas informaram-nos que chegam ao campo, diariamente, uma media de 25 refugiados. “Este número é, algumas vezes, superado sempre que a intensidade do fogo for maior. Chegam aqui pessoas, completamente, desesperadas e exaustas, salientaram.”
Notamos, igualmente, que a gestão diária do campo está aa direcção de um líder local (malawiano) que trabalha em estreita colaboração com ACNUR e com a polícia destacada de Blantyre para garantir a segurança dos refugiados. A polícia não vive no campo entre os refugiados. Está estacionada há cerca de 10 quilómetros e só vai ao campo para acompanhar delegações. Constituem uma equipa que trabalha para o mesmo objectivo – proporcionar aos moçambicanos a tranquilidade e paz que não encontram na sua terra de origem.
Visitámos o campo de refugiados de Kapise, entre os dias 29 a 31 de Janeiro de 2016, e reportamos aqui o que os nossos olhos viram e a nossa sensibilidade constatou. Vimos refugiados que chegaram à procura de abrigo e segurança. Não vimos moçambicanos que se deslocaram para colher milho das suas machambas feitas em território malawiano nem à procura de fertilizantes. Não vimos moçambicanos à procura de serviços de saúde nem de visita aos seus compadres malawianos. Esta é a realidade que os nossos olhos viram. 
Malawi solidário
Mais uma vez, tal como aconteceu na guerra dos 16 anos, (1976-1992) o Malawi volta a dar o bom exemplo de solidariedade, partilhando o pouco que possui com o vizinho que passa necessidades por desavenças políticas. Malawi é um pequeno território, mas com gente de grande coração, disse um dos intervenientes.  As últimas notícias que chegam dão conta de que Malawi vai abrir um outro campo para albergar os refugiados moçambicanos que chegam todos os dias à procura de segurança e sossego que não encontram na sua patria. Trata-se do campo de Luwani, que dista 65 quilómetros da fronteira de Zóbuè, na provincia de Tete.
O governo não tem vergonha!
Quando começam a chegar de todos os cantos do mundo os relatos das  violações do diereitos humanos contra os cidadãos moçambicanos das zonas de conflito, protagonizadas pelas forças governamentais , em Tsangano e Nkondezi, na provincia de Tete, o governo, às pressas, formou uma comissão sua, dirigida pelo vice-ministro das Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Joaquim Veríssimo, coadjuvado pelo vice-ministro do Interior, a segunda figura na hierarquia da chefia da Polícia, para averiguar a veracidade das denúncias.
Como era de esperar, a comisão governamental diz não ter encontrado nenhuma evidência de
violação dos direitos humanos. Acrescenta que constatou existir relações amistosas entre a população das referidas zonas e as forças governamentais. Não viu casas das populações queimadas, violações sexuais nem as seis escolas primárias encerradas, deixando várias centenas de crianças sem puder estudar. Nas suas andanças pelas aldeias incendiadas pelas forças governamentais, a comissão fazia-se acompanhar por polícias com armas em riste, perguntando as pessoas se haviam sido maltratadas pela polícia. Qual poderia ser a resposta? – Qualquer um pode adivinhar o patético serviço da comissão do governo.
Portanto, as conclusões a que a comissão do governo chegou foram forjadas para limpar a imagem do executivo que empurrou o país para o nível de Darfur, Tchad de Hissene Habré, Lilbéria de Charles Taylor ou da Síria, por isso, não têm nenhum valor jurídico e de nulo efeito. O governo fez-se de juiz em causa própria, isso é anti-ético e vergonhoso. Para fugir da vergonha das violações, a comissão do governo sacudiu a poeira para as costas dos homens armados da Renamo, dizendo que é a Renamo que saqueia os bens do povo, viola os direitos humanos e queima as casas das pessoas. O governo escondeu a cabeça mas deixou o corpo todo de fora. Ele pensa que conseguiu esquivar-se das críticas da comunidade internacional.