Deixamos o pouco que
tínhamos Em assembleia convocada para nos dizerem o que mais lhes
dói, os refugiados, sem rodeios, falaram que fugiram de Moçambique para Malawi
por temerem ser mortos porque as Forças de Defesa e Segurança, FDS, queimam as
nossas casas, alegando que nós damos apoio à Renamo.” Continuando, disseram que
as FDS saqueiam os nossos celeiros, roubam o nosso gado e põem em alvoroço as
nossas aldeias. As nossas crianças já não podem ir à escola porque nós fugimos
para as matas. As escolas estão lá mas vazias. Todos fugiram, professores
incluídos. As escolas dos nossos filhos estão fechadas, relataram.
Os nossos bois, cabritos e ovelhas foram roubados pelas
forças do governo (que eles chamam de forças da Frelimo porque cumprem ordens
do partido Frelimo). Nem as nossas galinhas escaparam, apanharam-nas uma a uma
e levaram-nas para os seus blindados, denunciaram os refugiados. Fazem isso
alegando que a Renamo vai ficar sem comida, vai ter que passar fome. Acontece,
porém, que quem está a passar fome agora é a população, somos nós que fugimos
das nossas terras, disse um refugiado.
Esquecem-se as forças da Frelimo de que aquilo que levam nos
pertence a nós, e não à Renamo como julgam, prosseguiram. Quem faz machambas
para produzir e quem cria animais que levam, somos nós que ficamos desgraçados
e empobrecidos. Agora já não temos nada para dar aos nossos filhos porque nos
tiraram tudo. Aqui no campo, não há comida suficiente para todos e o governo de
Moçambique não nos dá nada nem nos reconhece, denunciaram.
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Refugiados Kapes-Malawi |
Não somos preguiçosos
Os refugiados disseram ainda que o Alto Comissário de
Moçambique no Malawi foi, em Dezembro passado, ao campo de Kapise e convidou-os
a regressarem para o país porque, em Moçambique, não há guerra e a vida está a
correr com normalidade. Em resposta, os refugiados disseram ao Alto Comissário
que perderam tudo devido à guerra e aquele discurso do representante de
Moçambique era falso porque os soldados do governo batem nas populações,la e
roubam tudo. Perante a insistência do Alto Comissário, os refugiados
convidaram-no a abandonar o campo e se não o fizesse voluntariamente seria
obrigado a faze-lo, mas desta vez, de maneira forçada. Assim, foi abortada a
tentativa de convencer os refugiados a regressarem à fornalha de onde se haviam
escapado.
Contrariado, o Alto Comissário disse que aqueles não são
refugiados, mas sim, um grupo de preguiçosos que fogem das machambas para
viverem de esmola internacional. Um dos refugiados, falando em nome dos
restantes, perguntou como seria possível um representante de um estado
responsável proferir tais ofensas? Prosseguindo, disse que “somos preguiçosos
que deixamos machambas com milho, mapira e batata. Temos bananeiras,
mangueiras, laranjeiras e tangerineiras a florirem. A batata das nossas
machambas estão a alimentar os soldados dos que nos chamam de preguiçosos. As
nossas galinhas e cabritos alimentam aos nossos agressores. Fugimos e eles
ficaram a desfrutar do nosso trabalho.
“Diz o governo que somos preguiçosos, mas, os seus soldados
vêm roubar os nossos cabritos, ovelhas, bois e galinhas. Queimaram as nossas
casas e destruíram as nossas bicicletas e motorizadas. Não somos preguiçosos.
Estamos a fugir da guerra entre a Frelimo e a Renamo. Estamos a fugir das
torturas e de outras atrocidades que as forças governamentais fazem contra
nós.” Afinal, a teoria de “preguiçosos” não é apenas uma invenção do Alto
Comissário de Moçambique no Malawi, mas um pensamento dominante nas hostes governamentais
para tentar camuflar um problema real que afecta a milhares de moçambicanos.
Nem mesmo o
Presidente da República…
Falando a partir de Adis-Abeba, na Etiópia, onde decorreu,
semana passada, a cimeira da União Africana, o Presidente Filipe Nyusi disse
que os moçambicanos aglomerados no Malawi não são refugiados mas se trata
apenas de um movimento migratório das populações à procura de terras férteis,
fertilizantes, etc.
Porquê o governo não
os assume refugiados?
Segundo as Nações Unidas, refugiado é aquele que anbandonou
o seu território e demanda outro território devido à insegurança militar. Sai
do seu país porque o estado não lhe oferece segurança para viver e trabalhar e
no território de acolhimento é assitido por organizações das Nações Unidas,
como ACNUR, PNUD, UNICEF e outras. Admitindo isso, o governo de Moçambique
poderá ser desqualificado por ser incapaz de garantir segurança aos seus
cidadãos, descendo alguns degraus no ranking internacional, por isso evita
aceitar que há refugiados fugindo da guerra.
Esta é a razão fundamental do estranho esforço do governo de
Filipe Nyusi em não quer admitir os moçambicanos que fogem do país por causa da
guerra. Assim, assitimos uma música mais ou menos bem ensaiada, de cima abaixo,
negando a existência de refugiados porque isso fica que 40 anos depois da
Independência o governo ainda não tenha conseguido garantir a estabilidade do
país.
Vimos refugiados e
não movimento migratório
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Refugfiados Kapise - Malawi |
O que nós vimos, no terreno, não tem a ver com a imaginação
do governo moçambicano, pois, trata-se de uma outra realidade bem contrária o
que president chama, ironicamente, de “movimento migratório” . Um movimento
migratório, que nunca incluí o abandono de celeiros recheados de produtos,
animais de grande e pequeno porte e incêndios de casas, só pode ser uma loucura
colectiva. Só pode ser movimento migratório provocado pela guerra, que parece
ser o presente caso, se assim for, então estamos em guerra e aqueles são, como
consequência, refugiados de guerra, que o governo de Filipe Nyusi tanto evita
reconhecer e inventa palavras, encomenda entrevistas fantasmas.
Fomos ao campo de Kapise e vimos milhares de moçambicanos
fugindo das atrocidades inflingidas pelas FDS para desencorajar as populações
de se simpatizarem com a Renamo. Aqui está um problema grave. Não é tarefa das
FDS desencoranjarou ou encorajar alguém a simpatizar-se ou deixar de se
simpatizar com um determinado partido.
A situação poderá ser
dramática, alerta administrador de Mwanza
O administrador malawiano do distrito de Mwanza, Gift
Rapozo, que teve a cortesia de nos receber na sua residência, chamou a atenção
para as autoridades moçambicanas chegarem a um entendimento com a Renamo
porque, a continuar nos actuais ritmos, a situação poderá evoluir para o pior.
Pensávamos que fosse uma situação passageira, mas agora temos no campo de
Kapise 3.642 refugiados, disse.
O número de moçambicanos que chegam fugindo do conflito
armado entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo está a
tomar outras proporções. A assistência disponibilizada pelos Médicos Sem
Fronteiras mostrou-se insuficiente e agora entraram em acção a UNICEF, PNUD e o
ACNUR. Podemos dizer que algo está de errado nestes acontecimentos. Temos visões e dfinições
diferentes. Estamos a falar de coisas diferentes porque os moçambicanos que
estão em Kapisse são refugiados que procuram abrigo devido a confrontações
militares entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo, frisou
Gift Rapozo.
A comida é
insuficiente
Os refugiados disseram que estão a passar fome, a comida que
chega ao campo é insuficiente. “Desde que chegámos ao Malawi, o nosso governo
nunca nos apoiou”, disseram. “Nunca chegou de Moçambique um grão de milho ou um
saco de feijão. Nem um quilo de sal nem um bocado de açucar. Comemos graças à
benevolência do governo de Malawi que não tem tido mãos a medir e da ACNUR que
nos envia comida e outros serviços básicos de saúde. A ACNUR fornece tendas
para abrigar os refugiados. Com os pronunciamentos do governo de Moçambique de
que não há guerra e nós somos uns preguiçosos têm servido bloqueio aos apoios
internacionais. Isso tem contribuído para a degração das nossas condições de
vida, neste campo, porque o governo não assume que estamos a fugir de guerra,
ora em curso no país.”
Os ajudantes da
mentira
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Refugiados Kapise - Malawi |
Indivíduos ligados ao regime da Frelimo andam a desinformar
que os refugiados não são refugiados mas uns oportunistas que procuram comer
deitados, ou ainda, são moçambicanos que se deslocam a Malawi no âmbito das
relações familiars porque, segundo eles, há moçambicanos que casaram do outro
lado e há malawianos que constituiram familias cá, portanto, esse movimento
está incluído em visitas familiares. Na arte de bem desinformar, o governo
conta com o seu “precioso” G40 (grupo de moçambicanos que espalham mentiras
para favorecer o partido Frelimo e o seu governo, usando os meios públicos de
comunicção social) para espalhar a mentira e isolar nossos compatriotas que
demandam segurança e protecção além-fronteiras.
Outros ainda, bem instalados nas suas poltronas em Maputo,
telefonam para algum secretário permanente que esperava que os refugiados
fossem se despedir dele e lhes uma guia de marcha para se refugiarem no Malawi.
Isso de dizer que o grupo se pretende fazer passar por refugiados é
constituídos de mulheres e crianças, é uma mentira que faz bradar aos céus. No
campo, e é o único existente, vimos homens, mulheres, jovens e crianças.
Outro grupo de mentirosos diz que as mulheres q ue se encontram no Malawi são esposas
dos guerrilheiros da Renamo, tendo-as passado para o outro lado para livrá-las
de de eventuais problemas resultantes das confrontações. Que grande mentira! E
os velhos são pais dos guerrilheiros da Renamo? As senhoras já de avançada
idade que vimos são avós dos homens armados da Renamo? Como se diz na gíria
popular : Brincadeira tem hora. Não
pode brincar com as pessoas a toda hora.
Os verdadeiros oportunistas são aqueles que procuram tapar o
sol com a paneira. Ninguém fugiu da fome, até porque deixamos os nossos
celeiros cheios e as machambas lavradas. Fugimos da guerra entre as forças da
Frelimo e os homens armados da Renamo, frisou um dos refugiados.
Condições degradantes
Visitamos o campo de Picasse, que alberga os 3.642
refugiados moçambicanos, sempre acompanhados pelo líder do local onde estão os
mocambicanos. Vimos que os nossos compatriotas estão a viver em palhotas
improvisadas, por vezes, cobertas de capim. Outros, considerados
bem-aventurados, conseguiram receber umas pequenas tendas de lona. Não têm água
potável e as crianças brincam indiferentes.
As doenças diarréicas são frequentes por deficiente
saneamento do meio. Os desmaios não dao tréguas, por insuficiência alimentar.
Há desmaios todos os dias. Cada um fica atento para socorrer o vizinho quando
chegar a sua vez de desmaiar. Os assistentes sanitários do campo dizem não
haver nenhum segredo nisso e se deve unicamente à falta de comida.
Os mais velhos pensam o que vai ser o dia de amanhã. As
mulheres dizem que nas suas terras está chover e seria oportuno lançar a
segunda campanha de sementeira, mas entregam tudo a Deus porque só a Ele
pretence o future. Dizem que quando regressarem serão obrigados a começar tudo
do zero porque o que deixaram foi destruído e saqueiado.
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Refugiados Kapise - Malawi |
As crianças estudam, com o apoio do ACNUR, em escolas do nível primário improvisdas pelas
Nações Unidas para que os meninos não percam o ano lectivo. Dizem as crianças
que estão satisfeitas mas estariam melhor nas nas suas escolas que deixaram no
distrito de Tsangano. “Queremos voltar, mas, antes de tudo, parem com a
guerra”, foi o que nos disseram.
As autoridades malawianas informaram-nos que chegam ao
campo, diariamente, uma media de 25 refugiados. “Este número é, algumas vezes,
superado sempre que a intensidade do fogo for maior. Chegam aqui pessoas,
completamente, desesperadas e exaustas, salientaram.”
Notamos, igualmente, que a gestão diária do campo está aa
direcção de um líder local (malawiano) que trabalha em estreita colaboração com
ACNUR e com a polícia destacada de Blantyre para garantir a segurança dos
refugiados. A polícia não vive no campo entre os refugiados. Está estacionada
há cerca de 10 quilómetros e só vai ao campo para acompanhar delegações.
Constituem uma equipa que trabalha para o mesmo objectivo – proporcionar aos
moçambicanos a tranquilidade e paz que não encontram na sua terra de origem.
Visitámos o campo de refugiados de Kapise, entre os dias 29
a 31 de Janeiro de 2016, e reportamos aqui o que os nossos olhos viram e a
nossa sensibilidade constatou. Vimos refugiados que chegaram à procura de
abrigo e segurança. Não vimos moçambicanos que se deslocaram para colher milho
das suas machambas feitas em território malawiano nem à procura de
fertilizantes. Não vimos moçambicanos à procura de serviços de saúde nem de
visita aos seus compadres malawianos. Esta é a realidade que os nossos olhos
viram.
Malawi solidário
Mais uma vez, tal como aconteceu na guerra dos 16 anos,
(1976-1992) o Malawi volta a dar o bom exemplo de solidariedade, partilhando o
pouco que possui com o vizinho que passa necessidades por desavenças políticas.
Malawi é um pequeno território, mas com gente de grande coração, disse um dos
intervenientes. As últimas notícias que
chegam dão conta de que Malawi vai abrir um outro campo para albergar os
refugiados moçambicanos que chegam todos os dias à procura de segurança e
sossego que não encontram na sua patria. Trata-se do campo de Luwani, que dista
65 quilómetros da fronteira de Zóbuè, na provincia de Tete.
O governo não tem vergonha!
Quando começam a chegar de todos
os cantos do mundo os relatos das
violações do diereitos humanos contra os cidadãos moçambicanos das zonas
de conflito, protagonizadas pelas forças governamentais , em Tsangano e
Nkondezi, na provincia de Tete, o governo, às pressas, formou uma comissão sua,
dirigida pelo vice-ministro das Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos,
Joaquim Veríssimo, coadjuvado pelo vice-ministro do Interior, a segunda figura
na hierarquia da chefia da Polícia, para averiguar a veracidade das denúncias.
Como era de esperar, a comisão
governamental diz não ter encontrado nenhuma evidência de
violação dos direitos
humanos. Acrescenta que constatou existir relações amistosas entre a população
das referidas zonas e as forças governamentais. Não viu casas das populações
queimadas, violações sexuais nem as seis escolas primárias encerradas, deixando
várias centenas de crianças sem puder estudar. Nas suas andanças pelas aldeias
incendiadas pelas forças governamentais, a comissão fazia-se acompanhar por
polícias com armas em riste, perguntando as pessoas se haviam sido maltratadas
pela polícia. Qual poderia ser a resposta? – Qualquer um pode adivinhar o
patético serviço da comissão do governo.
Portanto, as conclusões a que a
comissão do governo chegou foram forjadas para limpar a imagem do executivo que
empurrou o país para o nível de Darfur, Tchad de Hissene Habré, Lilbéria de
Charles Taylor ou da Síria, por isso, não têm nenhum valor jurídico e de nulo
efeito. O governo fez-se de juiz em causa própria, isso é anti-ético e
vergonhoso. Para fugir da vergonha das violações, a comissão do governo sacudiu
a poeira para as costas dos homens armados da Renamo, dizendo que é a Renamo
que saqueia os bens do povo, viola os direitos humanos e queima as casas das
pessoas. O governo escondeu a cabeça mas deixou o corpo todo de fora. Ele pensa
que conseguiu esquivar-se das críticas da comunidade internacional.